Para Neri (2012), a Psicologia do envelhecimento focaliza as mudanças nos desempenhos cognitivos, afetivos e sociais, bem como as alterações em motivações, interesses, atitudes e valores que são característicos dos anos mais avançados da vida. Enfoca as diferenças intra e interindividuais que caracterizam os diversos processos psicológicos na velhice, levando em conta os desempenhos diferentes entre faixas etária, gênero escolaridade e bagagens culturais. O atendimento e acolhimento psicológico a essa população é um dos desafios contemporâneos da Psicologia bem como de outras áreas correlatas e integrantes do campo da gerontologia. O ensino da disciplina Psicologia do desenvolvimento - idoso em diferentes instituições trouxe entre outros desafios, o de proporcionar a estudantes de graduação a experiência da escuta de idosos. O desejo em sempre aliar a pratica profissional a um compromisso social, nos levou a convidar os alunos a desenvolverem essa escuta em asilos ou casas de repouso para assim estar-se também proporcionando a pessoas cujas realidades são muito frequentemente permeadas pelo abandono afetivo e social, momentos de interlocução/atenção com alguém, ainda que seja um estranho. A experiência tem sido enriquecedora em todos os sentido e níveis. O convite ao relato de vida, provoca quase sempre reações positivamente afetivas e muitas vezes recolhe-se relatos de trajetórias de vida surpreendentes. O processo de recordar é entrelaçado por fatores sociais, afetivos-emocionais e de identidade. O relato de sua própria trajetória nem sempre é um processo fácil e agradável tendo em vista a grande quantidade de variáveis envolvidas e muitas vezes necessárias de serem esquecidas em defesa própria. Percebe-se com alguma facilidade que recortes são feitos em nome de um conforto afetivo. Presenças de ausências aparentemente incompreensíveis são facilmente percebidas em alguns casos. A opção por idosos asilados se deu pela premissa de que se trata-se de pessoas que se encontram em situações de carência de atenção, tendo em vista que muitos são efetivamente esquecidos por suas famílias. E a indicação de que, preferencialmente sejam instituições públicas que atendam população de baixa ou mesmo nenhuma renda tem objetivo claro de atendimento social. O processo de visitação é precedido por um período de leitura de produções na temática do atendimento ao idoso bem como de processos de memória. Como a disciplina é um componente curricular de semestres iniciais, há também uma atenção quanto a discussão sobre a postura a ser assumida de respeito para com o indivíduo, assim como quanto ao sigilo e autorização para a utilização do relato como material didático-acadêmico. Há a indicação de que sejam evitadas registros em tempo real  assim como de fotografias. Não há limitação de número de visitas. Ficando essas á critério dos estudantes e disponibilidade da instituição visitada. À medida em que as visitas vão acontecendo, os relatos são feitos em sala de aula e os casos discutidos com base na literatura estudada. Em alguns casos verifica-se a necessidade de algum aprofundamento em aspectos específicos de cada caso e a busca a outras referências é feita. Solicita-se também aos estudantes um relato próprio da vivência dessa escuta. Tem-se obtido relatos muito gratificantes também dos estudantes quanto essa experiência já nos primeiros semestres de graduação. E não raro as visitas se mantem mesmo depois de findado o semestre letivo, indicando ter havido a construção de algum nível de compromisso profissional bem como de vínculo afetivo. Depois de alguns semestres com esse trabalho, percebe-se a singularidade da experiência e a necessidade de ser desenvolvida de forma interdisciplinar e multiprofissional.

Palavras chave: Psicologia do idoso; memória; processos cognitivos; relatos de vida.

EIXO TEMÁTICO - Psicologia em inserção na comunidade.