O século XXI é marcado por um controverso combate sobre o real papel da educação na formação moral e crítica do adolescente. O documentário ACABOU A PAZ, ISTO AQUI VAI VIRAR O CHILE! relata de forma objetiva e congruente um dos episódios mais marcantes da história da educação paulista e nacional: A reforma do governo Alckmin e as ocupações secundaristas, ocorridas entre 2015 e 2016. Com uma proposta unilateral de fechamento de escolas e criação dos chamados colégios de “ciclos únicos”, a Secretaria de Educação de São Paulo enfrentou resistência por parte dos alunos, pais, professores, funcionários e comunidade. Mesmo diante da brutalidade do aparelho policial do estado paulista, os menores secundaristas não tomaram conhecimento da situação e ocuparam as escolas, desencadeando assim o nascimento de uma identidade enquanto cidadão e se reconhecendo como agentes no processo da educação.  O texto de Ana Karina Amorim Checcia traz o seguinte questionamento “Como se dá a relação entre os estudantes e os demais participantes do processo?” Ora, se tomarmos como referência as ocupações, vemos que os adolescentes tiveram um papel de protagonistas nesse processo educacional. Eles perceberam que aquele era o momento de lutar por um direito, garantido pela constituição, pelo ECA e por toda a sociedade e a única maneira deles garantirem esse direito seria tomando um espaço que já era seu, a escola. O processo educacional não se resume ao conhecimento meramente acadêmico que é dado em sala de aula, ele é muito mais amplo, e é responsável pela formação do indivíduo academicamente, moralmente, civilmente, intelectualmente e acima de tudo humanamente. Quando os estudantes tomam para si a responsabilidade de lutar pela manutenção do sistema educacional, ali percebe-se uma nova sala de aula, que vai proporcionar-lhes um conhecimento para além das cartilhas e PCN´s, a formação da cidadania. De acordo com Abramo, a juventude simboliza e reflete os conflitos e dilemas da sociedade contemporânea, expressando as angustias, medos e esperanças presentes no contexto social.  De fato, se pegarmos como ponto de partida o contexto da crise moral que vive a nossa sociedade, em que valores são a todo instante questionados e há uma polarização política que prefere debater erros ao invés de procurar soluções, percebemos que os nossos adolescentes apenas têm potencializados os seus medos, angustias e incertezas, tudo isso sendo um reflexo do contexto social o qual eles estão inseridos. O documentário PRO DIA NASCER FELIZ traz uma reflexão também importante: O papel do professor e da escola na formação do adolescente. Mostrando uma realidade para aqueles que também não conseguem perceber o quanto o sistema é manipulado e os próprios professores são submetidos a aprovações inadequadas, contribuindo para a construção de um cidadão sem opinião e argumentos necessários para a própria sobrevivência diante do regime imposto para a sociedade.

Palavras-chave: Adolescência; escolarização; documentário

ISSN 2179-1589