REVISTA ACADÊMICA UNIVERSO SALVADOR, Vol. 4, No 7 (2018)

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A Revolução dos Bichos

Cristiane Pinho, Antônio Pinto, Tamires Tude

Resumo


ORWELL, G., “A Revolução dos Bichos”, São Paulo: Círculo do Livro, 1945.

 

 

MINIBIOGRAFIA

 

George Orwell, pseudônimo de Eric Arthur Blair, nasceu em 1903, em Bengala (Índia), filho de um funcionário britânico e uma francesa. Jornalista, o escritor inglês é conhecido por sua densa crítica ao sistema socialista, através de suas obras como exemplo a Revolução dos Bichos, em que 1945 foi publicado. George Orwell morreu em 1950, na Inglaterra, em consequência de uma tuberculose.

 

OBJETIVO DO AUTOR

 

PERÍODO HISTÓRICO

 

O livro, A Revolução dos Bichos, se passa durante a Segunda Guerra Mundial. Esta obra é considerada a de maior importância e popularismo do autor George Orwell.  O mundo vivia um clima de tensão, separado em dois blocos: o bloco capitalista e o bloco socialista. Apesar de socialista, o autor apresenta nesta obra uma crítica satírica ao regime instituído pela revolução russa na antiga União Soviética, bem como às práticas do ditador Joseph Stálin.

O livro traz também uma visão entre o socialismo ideal, idealizado por Karl Marx, e o socialismo real, aplicado no mundo ao longo do tempo. Fica evidente na obra, o pensamento do autor em que por mais nobres e justos que sejam os ideais originais do socialismo, na prática, eles se apresentam como fins impossíveis de serem alcançados. A sede por poder e riquezas, naturais ao ser humano, transformam o desejo da existência de uma sociedade em que todos os homens sejam iguais numa grande utopia, oportunamente utilizada para manipular as massas.

 

PRINCIPAIS PERSONAGENS

 

 


Sr. Jones (Monarca absolutista)

 

- Visto como um monarca absolutista;

- Ocasionalmente era cruel usando o chicote;

- Ocasionalmente era generoso, misturava leite com a ração;

- Exigia o máximo de produtividade dos animais sob a supervisão dos seus funcionários. Em troca dava apenas o necessário para que os bichos continuassem a sobreviver e trabalhar para ele.

- Neste primeiro momento tem-se referência aos regimes absolutistas, em que o líder absoluto é senhor de tudo. Todos que se encontram em suas terras estão subordinados a ele, sejam as classes mais inferiores, os bichos, ou as classes intermediárias, os funcionários, da granja solar.

- Dentre os regimes absolutistas, é possível visualizar neste momento uma espécie de monarquia absolutista, em que todos os recursos pertencem ao monarca. Todos são subordinados ao monarca e tudo que é produzido é direcionado para o monarca que detém o poder absoluto sobre todas as decisões a serem tomadas. Apesar de todos estarem subordinados ao Monarca, este concede poderes específicos a seus funcionários, para supervisionarem e controlarem a produtividade dos animais.

 

Velho Major (Karl Marx)


- Apresentou os ideais do animalismo ideal (referência a Karl Marx e ao socialismo ideal);

- Plantou a semente de uma sociedade animal igualitária, onde todos os animais seriam livres e iguais uns aos outros;

- Sob o argumento de que os animais faziam todo o trabalho, enquanto apenas os homens usufruíam do resultado, defendia que os bichos deveriam revoltar-se e expulsar os homens, cortando definitivamente qualquer relação entre os dois.

- Morreu antes da revolução;


 

 

Bola-de-Neve (Lenin e Trotsky)


- Jovem, inteligente, estrategista, discursivo, idealista (referência a Lenin e Trotsky);

- Principal responsável pelo sucesso inicial da revolução, estrategista da batalha do estábulo, idealizador de projetos e construções que visavam melhorar a vida dos animais;

- Manteve-se fiel aos ideais do animalismo;

- Sobrepujado por Napoleão e seu “exército” de cães, teve que recorrer ao exílio para não ser morto;

- Durante este período, é possível notar um sistema socialista democrático direto, em que todos os membros da sociedade participavam diretamente das decisões a serem tomadas na Granja dos Bichos.

 

Napoleão (Joseph Stálin - Tirano)


- Tirano cruel, não admitia oposição na granja. Perseguiu, expulsou, matou ou tentou matar todos aqueles que ofereciam ou poderiam oferecer algum tipo de resistência à sua liderança (referência a Joseph Stálin);

- Não era bom orador nem tão inteligente quanto Bola-de-Neve, mas foi esperto e ardiloso para tramar e executar um golpe contra seu rival político e tomar o poder da granja dos bichos;

- Cruel, bruto, desonesto, egoísta e corrupto eram algumas de suas características;

- Distorceu os ideais originais do animalismo para satisfazer seus próprios interesses em detrimento da sociedade animal;

- Usava cães, Moisés, Garganta e as ovelhas para controlar os animais.

- A partir deste momento, o autor faz uma referência aos regimes de governo autoritários, neste caso, a tirania.

 

Garganta (Publicidade e propaganda)


- Demagogo por natureza, tinha grande poder de persuasão;

- Convencia os animais a acreditarem e seguirem Napoleão;

- Modificou e manipulou os 7 mandamentos;

- Se beneficiou do fato de a maioria dos animais ser analfabeta;

- É uma referência à publicidade e a propaganda que desempenham importante papel de convencimento da população quanto a necessidade da existência de governos autoritários, seja propagando o medo em caso de ausência deste ou apresentando relatórios e estatísticas que demonstrem avanços sociais, muitas vezes inexistentes ou relativizados, alcançados graças ao governo.

 

Ovelhas (Simpatizantes infiltrados)

 

- Interrompiam aos berros sempre que alguem tentava argumentar contra ou levantar questionamentos sobre as ideias e ordens de Napoleão e seu grupo dominante;

 - Representa os membros da sociedade, simpatizantes do líder autoritário, que se dedicam a desestimular, abafar, ou até mesmo desvirtuar ações de grupos opositores ao governo.

 

Cachorros (Braço militar)


- Um exército particular que usava o medo para fazer os animais seguirem as ordens de Napoleão;

- Matavam ou intimidavam todos os que se opunham ao líder;

- Faziam parte do plano de Napoleão para controlar os animais;

- Representa o braço militar de um Governo totalitário (referência aos Bolcheviques).

 

 

Moisés, o Corvo (Crenças – líder religioso)


- Falava aos animais sobre a Montanha Cande (o céu para os animais);
- Os animais poderiam ir até a Montanha Cande se trabalhassem duro;
- Bola-De-Neve e o Major eram contra Moisés (acreditavam que a Montanha era uma desculpa para fazer os animais trabalharem);

- Napoleão permitiu que ficasse, pois, a pregação de Moisés servia para controlar os ânimos dos animais, fazendo-os acreditar que o sacrifício nesta vida era passageiro e seria recompensado na Montanha Cande, após sua morte por toda eternidade;

- É referência à necessidade do ser humano, oprimido e descrente de perspectivas melhores, de buscar um refúgio que justifique todo aquele sofrimento, o que muitas vezes recai sobre a religião e a esperança de uma vida eterna plena e perfeita que justifique o sofrimento diário enquanto em vida.

 

 

Mimosa (Classe média um pouco mais privilegiada que as demais)


- Vaidosa, egoísta e acomodada com o pouco que, momentaneamente, lhe era dado;

- Não pensava na Granja dos Bichos;

- Ficava ao lado de qualquer um que lhe desse o que queria;

- Representa a parcela de uma sociedade que se deixa explorar, desde que lhe sejam dadas algumas regalias, ainda que estas regalias representem nada mais que um atestado de sua condição de subordinação às classes dominantes;

 

 

 

Sansão (Trabalhador rural)


- Forte. Um trabalhador esforçado que se importava com a Granja dos Bichos;

- Ignorante. E, por isso, facilmente manipulável;

- Dava sempre o máximo de si pela causa e pelo bem da sociedade animal. Foi usado e explorado pela classe dominante até o momento em que deixou de ser útil e tornou-se um estorvo, sendo prontamente descartado por Napoleão;

- Representa os trabalhadores rurais, dotados de pouco conhecimento e muita força laboral. Responsáveis pela maior parte da produção de insumos para a sociedade. São facilmente descartados ou esquecidos quando sua capacidade laboral se torna menor do que seu custo social.

 


 

Benjamin


- Um burro velho e sábio que suspeitava da Revolução;

- Pensava que "nada nunca vai mudar" e estava certo;

- Experiente o bastante para concluir que toda sociedade, tem um ciclo e que independente das motivações iniciais tendem a ser levadas ao mesmo ponto de conflito, a exploração da maioria ignorante por uma minoria mais esperta;

- Representa o pensamento do próprio George Orwell, a respeito do socialismo. Existe uma enorme diferença entre o socialismo utópico e o socialismo real. O Socialismo ideal seria o regime mais justo e igualitário. Contudo, as ambições do homem, o torna impossível e o transforma em um regime, por vezes, mais cruel e desumano do que o próprio capitalismo.

 


 

     


 

CONCLUSÃO

 

Ao longo de toda obra, o autor George Orwell apresenta inúmeras metáforas que remetem ao período histórico em que a obra foi escrita. Tais características continuam presente em inúmeras sociedades até hoje. A pesada crítica ao socialismo real e à manipulação dos ideais originais do socialismo para atender a interesses pessoais do grupo dominante é ponto central da obra. A obra traz ainda, de maneira muito clara, as razões pelas quais o autor acredita ser o motivo de fortalecimento e a perpetuação de um governo autoritário em uma sociedade. São eles:

-        O medo. Seja através da imposição da força, utilizando o braço militar do governo, ou criando inimigos imaginários que ameacem a soberania do Estado e o bem-estar social do grupo;

-        e a ignorância dos membros das classes dominadas que, por falta de conhecimento, são incapazes de criarem uma opinião própria sobre os fatos e acabam por se tornar marionetes, facilmente manipuláveis pelos meios de comunicação, influenciadores e formadores de opinião que difundem ideias deturpadas a respeito da realidade.

 

 




ISSN 2179-1589

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