REVISTA DE TRABALHOS ACADÊMICOS – UNIVERSO BELO HORIZONTE, Vol. 2, No 1 (2016)

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"CABEÇA DE PORCO" E A SUBCULTURA CRIMINAL

Liciane Faria Traverso Gonçalves, Rosana Márcia Guimarães, Valdecir Andrade Leite

Resumo


A obra Cabeça de Porco é o resultado da pesquisa que MV Bill, rapper, e Celso Athayde, produtor, fizeram para retratar como vivem as comunidades marginalizadas por meio das visitas às favelas brasileiras mais conhecidas pela violência e criminalidade. Colheram relatos de moradores, com histórias marcadas pelo sofrimento da violência, das drogas e das mortes. Mostram com propriedade a economia das drogas, sim, esse produto que a sociedade vulgariza e condena é a fonte de renda de muitas pessoas que trabalham, vigiam, matam e vendem para sobreviver nesse meio. Na maioria dos casos, quem usa as drogas como fonte financeira também se envolve como usuário, e o mais chocante é que mais da metade dos envolvidos são crianças e adolescentes que foram "recrutadas" para essa vida.

Interessante destacar que o termo "cabeça de porco" significa habitação coletiva de pessoas de classe pobre, cortiço, favela e, no livro, também, é a boca de fumo.

Em meio às histórias impactantes, há situações de racismo e preconceito em que os próprios autores revelam ter passado. E para intercalar e até dar sentido ao sentimento de revolta que é causado nos leitores, o livro dispõe as análises de Luiz Eduardo Soares, antropólogo e cientista político, que uniu sua pesquisa e formou questionamentos tocantes e reais, além de examinar as condições de vida e o psicológico de cada situação.

Com Luiz, se percebe que a pesquisa não apenas apresenta um problema, mas o explica e mostra como tudo chegou a tal ponto, instiga o leitor a reagir e a estudar sobre alguma solução. Essa saída não é algo fácil, mas é tão esperado, na verdade já se inicia a obra com a seguinte proposta: "A intenção deste livro não é denunciar, mas apontar saídas". Entretanto, em várias outras passagens percebe-se que os próprios autores temem não haver saída.

Ademais, o leitor lida o tempo todo com o chamado "sistema", que sobrevive pela economia dos produtos ilícitos e leva crianças e jovens a trabalharem em prol disso para sobreviverem. A desestruturação familiar é a causa que, na maioria das vezes, induz menores de idade a buscar ajuda financeira, e apoio ou incentivo moral. Para isso eles aprendem a mexer com armas, matam quando é preciso e usam drogas para ficarem alertas a qualquer entrada da polícia na favela. E ao fim, o "sistema" só sobrevive se a polícia deixar, algo contraditório, mas a polícia ajuda, cobra propina, favorece certas bocas de fumo, ignora situações de risco na comunidade. Sendo assim, não cumprem o papel de ajudar a comunidade, apenas levam adiante o "sistema".

Contudo, a obra pode ser considerada um clássico da literatura criminológica, sobretudo, no que versa sobre a subcultura criminal, vez que demonstra a etiologia criminal que é a ciência que estuda a criminogênese, que objetiva explicar quais são as causas do crime e, por fim, combater e reprimir a criminalidade.




ISSN 2179-1589

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