REVISTA DE TRABALHOS ACADÊMICOS – UNIVERSO BELO HORIZONTE, Vol. 1, No 2 (2017)

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VENTILAÇÃO COM VOLUME GARANTIDO EM NEONATOLOGIA

Agnes Flórida Santos da Cunha, Miria dos Santos Sobrinho

Resumo


A ventilação mecânica em neonatologia evoluiu drasticamente ao longo do tempo. Inicialmente utilizavam-se modos ventilatórios adaptados a partir de parâmetros adultos, que limitavam a pressão fornecida, ciclavam com o tempo inspiratório, e o volume corrente fornecido iria flutuar de acordo com a complacência pulmonar.

Avanços tecnológicos e uma maior compreensão dos fatores responsáveis pela lesão pulmonar induzida pela ventilação proporcionaram melhores resultados no desenvolvimento de ventiladores mecânicos utilizados em recém-nascidos prematuros. A tecnologia de microprocessadores incorporada para ventiladores neonatais associado ao desenvolvimento do sensor de fluxo proximal permitiu a sincronização efetiva com o esforço do paciente, realizando um controle eficaz do volume corrente fornecido.

A principal diferença entre a ventilação limitada à pressão e a limitada à volume é a maneira pela qual o fluxo inspiratório é entregue ao paciente. No primeiro modo há um aumento do fluxo no início da inspiração, gerando uma rápida pressurização do circuito e entrega precoce do volume corrente, podendo ser vantajosa quando a doença pulmonar for difusa e necessitar de uma rápida abertura alveolar. Já no segundo, onde o volume corrente desejado é pré- estabelecido e a duração da inspiração depende do tempo necessário para que este volume seja entregue, o fluxo acelera no início da inspiração, porém permanece constante ao longo do tempo inspiratório, resultando em um efeito de rampa, que pode ser benéfico quando a doença pulmonar é mais heterogênea e em situações onde há mudança rápida na complacência pulmonar, como no caso da administração de surfactante em prematuros.

O reconhecimento de que o volume, em vez da pressão, é o determinante crítico da lesão pulmonar induzida pela ventilação, levou ao desenvolvimento de um melhor controle do volume corrente. A ventilação limitada a volume tradicional não é viável em recém-nascidos devido à perda do volume corrente que ocorre por conta do escape de ar ao redor dos tubos endotraqueais sem balonete utilizados em neonatologia. Modificações nos microprocessadores levaram ao desenvolvimento de uma forma híbrida de ventilação, que combina vantagens da ventilação limitada à pressão com a capacidade de entregar um volume corrente mais consistente, chamada de ventilação com volume alvo.

A ventilação com volume garantido é uma das formas de ventilação com volume alvo, possibilita o controle eficaz do volume corrente devido ao desenvolvimento de sensores de fluxo precisos. Estes mensuram o volume corrente expirado no ciclo respiratório e realizam um constante ajuste da pressão inspiratória para atingir o volume alvo nas próximas respirações. Essa modalidade é menos influenciada pelo escape de ar ao redor do tubo endotraqueal, podendo ser usada com escapes de até 50%. À medida que o quadro clínico e a complacência pulmonar do recém nascido melhoram, a pressão inspiratória necessária para atingir o volume corrente pré estabelecido diminui, proporcionando uma melhor estabilidade ventilatória. O grande limitador da sua utilização é a pequena variedade de ventiladores neonatais que realizam esta função.  À medida que novas pesquisas forem realizadas, a sua implementação será essencial para uma melhor assistência nas Unidades de Terapia Intensiva Neonatais.




ISSN 2179-1589

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