REVISTA DE TRABALHOS ACADÊMICOS – UNIVERSO BELO HORIZONTE, Vol. 1, No 2 (2017)

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Pensar a dissonância cognitiva nas organizações à luz da questão ética

Sirlene Ferreira Paes, Cynthia Domusci, Alessandra Berbert Ferreira

Resumo


O termo dissonância cognitiva surgiu a partir dos estudos de Leo Festinger, um psicólogo de meados do século XX, cujos estudos se voltavam para a terapia cognitivo-comportamental.  A chamada dissonância cognitiva, usualmente falando, diz respeito ao fato de uma pessoa viver um conflito entre suas convicções e seu comportamento. Poderíamos dizer que se trata de certo descasamento entre aquilo que se acredita e aquilo que às vezes se deve fazer.

 

Essa temática tem sido de extrema importância para o estudo do comportamento nas organizações. E embora o termo também diga respeito às vivências pessoais, aqui optamos por pensá-lo no estudo da cultura organizacional de modo geral.

 

Portanto, pensar a vivência da dissonância cognitiva no âmbito empresarial, muitas vezes implica reforçar que nem sempre as ordens e comandos dados por gestores e chefes caminham no sentido daquilo que se acredita ser o ideal. Isto é, às vezes, o funcionário é induzido a se comportar de modo a trilhar na contramão de suas crenças mais arraigadas. Neste sentido, acreditamos que antes de se candidatar à determinada vaga de emprego, é bom que se conheça a filosofia da empresa na qual se pretende ingressar, conhecendo a missão e os valores apregoados.

 

Não obstante tal conhecimento, uma vez submetido à dissonância, o que o trabalhador poderá fazer? Festinger em seu estudo a respeito já apontava prováveis saídas. Poder-se-ia mudar as próprias convicções, ou mudar o comportamento perante o que se acredita ou ainda minimizar os aspectos negativos geradores do desconforto vivenciado pelo funcionário. Para fins de exemplificação, poderíamos pensar num alto executivo de empresa de porte considerável, que, apesar de ser engajado em causas ambientais, dirige uma organização que descumpre a legislação de proteção ao meio ambiente. Muito provavelmente, o desconforto deste gestor seria real.

 

Neste sentido, a partir das saídas da dissonância apontadas por Festinger, as opções seriam: ou o executivo desistiria de seu engajamento na questão ambiental, assim abrindo mão de suas crenças; ou ele tomaria decisões para cumprir a legislação em voga (o que por sua vez poderia acarretar outro tipo de transtornos) ou também poderia passar a acreditar que a inobservância da legislação não gerava danos ambientais tão graves assim; talvez, até mesmo considerar que outros benefícios que a empresa legava à comunidade onde estivesse inserida, sobrepujariam os danos ambientais gerados.

 

É exatamente neste aspecto que podemos pensar na discussão ética. Será que quando se tem convicções arraigadas sobre alguns aspectos, mudar de opinião por questão de conveniência seria algo fácil? E ao tentar minimizar os impactos negativos da poluição que a empresa causaria, buscando atingir a consonância ou sair do sentimento de desconforto citado, a ética estaria sendo levada em consideração? O fato de o indivíduo agir na contramão do que acha correto não gera uma questão ética significativa? O sujeito verdadeiramente ético consegue deixar de sê-lo? As respostas e a discussão por elas suscitadas podem ser profícuas. Fica aqui minimamente a propositura de se pensar a respeito.. 




ISSN 2179-1589

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