Resenha descritiva do artigo A Clínica Amiga do Gato – Boletim Técnico Científico da ABFeL
Resumo
PUBLICAÇÃO ANALISADA:
TEIXEIRA, Myrian. A Clínica Amiga do Gato – Boletim Técnico Científico da ABFeL, Associação Brasileira de Clínicos de Felinos – Janeiro de 2022
1 CREDENCIAIS DA AUTORA:
Myrian Kátia Iser Teixeira é Mestre em Ciências Médicas pela Unicamp, Doutoranda pela UFMG, Pós-Graduação em Clínica Médica de Felinos pela Universidade Castelo Branco, Pós-Graduação em Medicina Felina pela Universidade Católica de Salta, Professora de Pós-Graduação na área de Medicina Felina, Membro da American Association of Feline Practioners – AAFP, Membro da Associação Brasileira de Saúde – ABS, Conselheira Científica da Academia Brasileira de Clínicos de Felinos – ABFeL, Sócia fundadora da Clínica Veterinária Especializada em Felinos – Gato Leão Dourado.
Além da publicação resenhada, a Myrian Kátia Iser Teixeira é autora de capítulos de livros de Medicina Felina e de artigos científicos na área de Medicina Felina.
2 OBJETIVOS DA AUTORA:
A publicação ressalta as peculiaridades dos felinos domésticos e a importância de um atendimento clínico diferenciado desses animais, com manejo adequado, em ambiente livre de estresse, para a obtenção de diagnóstico e prognóstico mais efetivos. O texto explica as práticas denominadas “Cat Friendly”, que visam o bem-estar dos felinos e vêm ganhando cada vez mais adeptos entre os veterinários especializados em gatos.
De fácil consulta e escrito em linguagem simples, mas com profundidade de conteúdo, o texto também alcança os tutores de gatos, sendo uma espécie de manual com informações e orientações para a criação de animais mais felizes e saudáveis.
3 RESUMO DA PUBLICAÇÃO:
O texto “Clínica Amiga do Gato”, objeto desta resenha descritiva, é parte do Boletim Técnico, um novo projeto da Academia Brasileira de Felinos, ABFeL, (fundada em 2007), que visa consolidar informações relevantes da Medicina Felina adaptadas à realidade brasileira.
De acordo com a publicação, as ideias sobre o manejo clínico amigável aos gatos começaram a ganhar força em 2012, a partir de uma iniciativa mundial, desenvolvida pela parceria entre a International Society of Feline Medicine (ISFM) e a American Association of Feline Practitioners (AAFP). Ambas as organizações oferecem guias sobre seus programas Cat Friendly, bem como diretrizes sobre manejo e abordagem de algumas doenças mais comuns nos pacientes felinos (ICC/ISFM, 2020; AAFP, 2021-b).
Num primeiro momento, a concepção de clínica amiga do gato (CAG) surgiu da necessidade de incentivar as visitas aos veterinários visto que, nos Estados Unidos e na Europa, onde os gatos são os animais de estimação mais populares, eles frequentam menos as clínicas quando comparados aos cães (SPARKES e MANLEY, 2012).
A partir de então, estabelecendo a máxima de que “gatos devem ser atendidos como gatos” o conceito CAG se estendeu para o trabalho do médico veterinário propondo a ele uma abordagem diferenciada e de excelência do paciente felino, de forma a beneficiar os gatos em vários aspectos do atendimento clínico, como espaços físicos adequados e harmonizados, equipe especializada e manejo gentil apropriado à espécie.
De acordo com a autora, diferentemente dos cães, que foram domesticados, os gatos domésticos são animais domiciliados que conservam diversas características comportamentais e funcionais da vida selvagem e são essas peculiaridades que definem seus comportamentos e necessidades. Por isso, dentro da ótica da CAG, é fundamental conhecer o comportamento e as particularidades da espécie felina para que os gatos tenham suas necessidades supridas, seja no ambiente domiciliar ou hospitalar.
4 CONCLUSÃO:
Para além das características já conhecidas, como o fato de serem carnívoros e caçadores solitários, a autora mostra que os gatos são seres sociais e extremamente sensíveis ao ambiente em que vivem. Estudos correlatos, nos quais se baseiam a publicação, apontam o quanto eles são afetados por odores, ruídos e alterações do meio. Com sentidos muito desenvolvidos, se comunicam de diversas formas, principalmente pela marcação de território – deixando seus cheiros – posturas corporal e facial e vocalização, sendo essa última estimulada ao longo da relação gato-homem (BEAVER, 2003, CASE, 2003, RODAN, 2012; AAFP, 2021; AAFP, 2020a).
Decifrar essa “linguagem” felina passa a ser, portanto, condição básica tanto para os tutores quanto para os médicos no sentido de se identificar problemas de saúde e/ou de origem comportamental e realizar o manejo adequado. A autora ressalta que, em ambiente hospitalar, os gatos podem ser afetados por medo e ansiedade passando da postura de defesa para a de ataque em questão de minutos e o controle dessa situação depende da capacidade da equipe em minimizar o estresse do paciente.
A prática comum de segurar o gato pela nuca, por exemplo, nunca é recomendada, pois incita o medo. O atendimento Cat Friendly recomenda que o gato seja acariciado ou massageado na parte superior da cabeça, com os três dedos do meio, mantendo o controle da cabeça com os dedos polegar e mínimo. As formas de restrição física devem ser substituídas por métodos mais brandos, como o uso de toalhas sobre os olhos ou envolvendo todo o corpo do paciente para que ele seja medicado ou pra que seja feita a coleta de material pra exames.
Sabendo o quanto o ambiente influencia no comportamento e saúde dos felinos, a Clínica Amiga do Gato prega, ainda, que os estabelecimentos veterinários de saúde forneçam ambientes seguros e preparados esses pacientes, desde a recepção. Orienta-se que esses locais não tenham muito estímulo sensorial, sendo livres de ruídos e odores “ofensivos aos gatos” e com profissionais gentis e capacitados para esse atendimento especializado.
Aos médicos veterinários cabe identificar a personalidade e o estado emocional dos pacientes, durante o atendimento, a fim de conduzir e “customizar” o atendimento. Manejos forçados e/ou inadequados podem impactar negativamente a saúde dos gatos, bem como interferir nos resultados de exames, portanto, toda essa abordagem semiológica deve ser manter nos casos em que o paciente necessitar de internação e deve ser ensinada aos tutores. (CARNEY et al, 2012; RODAN, 2012; ICC/ISFM, 2020; AAFP, 2021-b; MAZZOTTI, 2016; HAMPTON et al, 2020; HEATH, 2020; ELLIS et al, 2013)