Já em meados de 2002, vislumbrava-se que as técnicas não invasivas de estimulação cerebral desempenhariam um papel cada vez maior na prática clínica, tendo em vista o desenvolvimento da tomografia por emissão de prótons e da ressonância magnética funcional (George, 2002). Considerando que a ETCC pode modular a excitabilidade cortical e melhorar os mecanismos neurofisiológicos que compensam o aprendizado prejudicado na DP, uma revisão sistemática de 2015 envolvendo estudos dos últimos 10 anos (n=10) confirmaram que a ETCC aplicada ao córtex motor teve resultados significativos na função motora e, em menor grau, nos testes cognitivos (Broeder, 2015). Hofheinz (2016), constatou em seus estudos de revisão que ainda não existiam evidências suficientes para determinar os efeitos da ETCC na redução do tempo off (quando os sintomas não são controlados pela medicação) e no tempo com discinesia (tempo em que os sintomas são controlados). Achados meta-analíticos indicaram que os protocolos de ETCC podem mostrar efeitos positivos imediatos na locomoção funcional em pessoas com DP, no entanto, explorar protocolos “ideias” de ETCC (ou seja, visando várias regiões motoras e pré-frontais) devem ser alvos de estudos futuros (Lee, 2019; Kim, 2019). Em se tratando do efeito da ETCC no desempenho motor do membro superior, quando aplicada ao córtex motor primário, ganhos foram apontados na força e velocidade  do  movimento, entretanto uma variação considerável foi encontrada nos parâmetros da ETCC e mais estudos são necessários para esclarecer os efeitos a longo prazo (Patel, 2019). Com relação a marcha de pacientes com DP, a ETCC apresentou-se como uma abordagem promissora, principalmente a anódica aplicada sobre as áreas corticais motoras, porém explorações sistemáticas de protocolos são necessárias para otimizar a eficácia (Nascimento, 2021; Pol, 2021; Liu, 2021). Recentemente, uma revisão sistemática com meta-análise demonstrou que não houve efeito significativo de curto prazo da ETCC isolada na função motora, equilíbrio, marcha, discinesias ou flutuações motoras na doença de Parkinson, independentemente da área cerebral ou dos alvos estimulados (Oliveira, 2022). Por conseguinte, estudos randomizados e controlados com acompanhamentos a curto médio e longo prazo das amostras devem ser estimulados para maior entendimento dos efeitos da ETCC na DP.  Função motora de membros superiores, inferiores, marcha bem como a correlação com áreas cerebrais e parâmetros da ETCC devem ser analisados isoladamente e de forma global no paciente com DP.

Referências Bibliográficas

1-GEORGE, Mark S. New methods of minimally invasive brain modulation as therapies in psychiatry: TMS, MST, VNS and DBS. Zhonghua yi xue za zhi= Chinese Medical Journal; Free China ed, v. 65, n. 8, p. 349-360, 2002.

2-BROEDER, Sanne et al. Transcranial direct current stimulation in Parkinson's disease: Neurophysiological mechanisms and behavioral effects. Neuroscience & Biobehavioral Reviews, v. 57, p. 105-117, 2015.

3-HOFHEINZ, Martin; MIBS, Michael; ELSNER, Bernhard. Dual task training for improving balance and gait in people with stroke. The Cochrane Database of Systematic Reviews, v. 2016, n. 10, 2016.

4-LEE, Hyo Keun et al. Does transcranial direct current stimulation improve functional locomotion in people with Parkinson’s disease? A systematic review and meta-analysis. Journal of Neuroengineering and rehabilitation, v. 16, p. 1-13, 2019.

5- KIM, Yong Wook et al. Effects of non-invasive brain stimulation on freezing of gait in parkinsonism: a systematic review with meta-analysis. Parkinsonism & related disorders, v. 64, p. 82-89, 2019.

6- PATEL, Ronak et al. The impact of transcranial direct current stimulation on upper-limb motor performance in healthy adults: a systematic review and meta-analysis. Frontiers in Neuroscience, v. 13, p. 1213, 2019.

7- NASCIMENTO, Lucas Rodrigues et al. Transcranial direct current stimulation provides no clinically important benefits over walking training for improving walking in Parkinson's disease: a systematic review. Journal of physiotherapy, v. 67, n. 3, p. 190-196, 2021.

8- POL, Fateme et al. The effects of transcranial direct current stimulation on gait in patients with Parkinson’s disease: a systematic review. Translational neurodegeneration, v. 10, n. 1, p. 1-19, 2021.

9- LIU, Ying et al. The associations of cerebrospinal fluid ApoE and biomarkers of Alzheimer’s disease: exploring interactions with sex. Frontiers in Neuroscience, v. 15, p. 633576, 2021.

10- OLIVEIRA, Paloma Cristina Alves de et al. Transcranial Direct Current Stimulation on Parkinson's Disease: Systematic Review and Meta-Analysis. Frontiers in Neurology, v. 12, p. 794784, 2022.