REVISTA TRANSDISCIPLINAR UNIVERSO DA SAÚDE, Vol. 3, No 3 (2023)

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AVALIAÇÃO EDUCACIONAL PRESENCIAL, HÍBRIDO E ON LINE: FUNÇÕES, INSTRUMENTOS E PLANEJAMENTO

Ezequiel Fabiane Spanholi, Osmar Pedrochi Junior, Caliandra Pinto Araújo, Rita de Cássia Santos Pereira Benigno, André Sant´Anna Zarife, André Costa Matos

Resumo


Este texto está baseado em quatro artigos e visa discutir os modelos clássicos de avaliação, em especial a avaliação formativa e o seu papel nos modelos presenciais, híbridos ou não presenciais. Com o desenvolvimento da tecnologia e o uso das ferramentas digitais, passamos por um processo de modernização das metodologias de ensino, com novas maneiras de avaliar o aprendizado, que foram se fazendo necessárias. Nesse contexto, foram selecionados quatro artigos pelo professor responsável pela disciplina de mestrado, que debatem sobre o tema de avaliação e as metodologias de ensino presenciais, híbridas ou não presenciais.

A primeira autora, Heritage (2007), discute em seu artigo a avaliação formativa e o seu papel no processo de ensino-aprendizagem. Elanos mostra que o processo de avaliação, usado de maneira eficaz, é capaz de moldar o processo de aprendizagem embora essa estratégia ainda seja pouco utilizada na atualidade. Em seu texto, pode-se observar que: “A avaliação formativa envolve uma variedade de estratégias para coleta de evidências, que podem ser categorizadas em três tipos principais: avaliação em tempo real, interação planejada e avaliação integrada ao currículo”(HERITAGE, 2007, v89, n2). Sobre a avaliação em tempo real, fica claro que ela deve ocorrer espontaneamente no curso da aula, estimulando as discussões em grupo. Já interação planejada, exige de antemão uma decisão dos professores de como provocar o pensamento dos alunos, com questionamentos que explorem as ideias apresentadas em aula. Por outro lado, a avaliação integrada ao currículo, é feita analisando-se o portifólio criado pelos estudantes no decorrer do curso. O texto explora também os elementos da avaliação formativa que são quatro, a saber: identificar as lacunas entre o conhecimento atual e o desejado pelo aluno; dar o feedback em múltiplos níveis contando com o envolvimento dos professores e alunos em um processo contínuo; a necessidade do envolvimento dos participantes com sua própria avaliação; e a compreensão dos progressos da aprendizagem como guia para a progressão do aprendizado. Por fim, fica claro que os professores precisam desenvolver conhecimentos e habilidades específicas para construírem o processo de avaliação, incluindo o domínio do conhecimento, habilidades e conceitos para que o aluno atinja o desempenho desejado, além decompreender a metacognição do aluno e ensiná-los a avaliar seu próprio conhecimento e dos outro colegas, reconhecendo aquilo que não aprenderam. No outro extremos, é papel do professor analisar as repostas das avaliações dos alunos como meio de criar feedback personalizado e ministrar o conteúdo de acordo com a capacidade de aprendizagem do aluno evitando passos que possam ser muito difíceis a ponto de frustrar ou muito fáceis a ponto de desestimular o aprendizado.

Em corroboração aos assuntos abordados no artigo anterior, Black (2009) faz uma explanação sobre a avaliação formativa. O autor deixa claro na primeira página do artigo que:

A característica distintiva da avaliação formativa é a de que as informações obtidas por meio da avaliação são usadas, tanto pelos professores quanto pelos alunos, para modificar o seu trabalho visando torná-lo mais eficaz. [...] a ação necessária deve incluir alguma forma de ensino diferenciado. (BLACK, 2009, p. 195).

 

Ele cita como obstáculo para o desenvolvimento da avaliação formativa o fato dela pertencer a apenas uma das três funções da avaliação (as outrassão: a assistência direta ao ensino e a responsabilização pública das instituições e dos professores). Muita crítica tem surgido ao uso de escores validados por testes externos como modelo de desempenho institucional. Sabe-se que a preparação para testes específicos com a finalidade de obtenção pontual de escores, distorce a aprendizagem rebaixando o nível cognitivo da sala de aula, superficializando o ensino e desmotivando boa parte dos alunos. Como parte do processo para melhoria da avaliação, verifica-se a necessidade de grandes investimentos na formação continuada dos docentes para que muitos dos professores parem de olhar a avaliação com aversão e suspeita. O texto deixa claro que a avaliação formativa tem que funcionar como suporte para o ensino porém o desenvolvimento dos critérios avaliativos tem que ser claros e objetivos, estabelecidos em uma sequência de aprendizagem. É notório que a avaliação em sala de aula é mais importante para a formação do aluno do que os testes tradicionais, formais e externos, uma vez que ela possibilita uma simbiose na melhoria do ensino permitindo organizar macroscopicamente e a longo prazo a turma em grupos diferentes de acordo com seus desempenhos e afinidades, sem abrir mão de avaliações que permitam analisar a compreensão e as dificuldades específicas ou futuras. Implementar uma avaliação formativa implica em quebra de paradigmas tanto para professores, por meio de acompanhamentos regulares com encontros para relato e comparação de desempenho, quanto para alunos estimulando a capacidade em julgar seu próprio trabalho e desenvolver sua metacognição.

Já Silva (2016),debate sobre a avaliação no modelo híbrido. O autor descreve que a avaliação no ensino on-linenão deve ser uma simples reproduçãoda avaliação praticada no modelo presencial, principalmente pelo fato dessa visar basicamente uma medida cumulativa de resultados de testes pontuais que pouco traduzem a atuação do discente e o seu processo de aprendizagem além de impor um ritmo monótono e repetitivo na formação, que tem como expectador um aluno passivo à instrução. Por mais que esse tema seja debatido, essa prática do modelo informacional é a que ainda prevalece na sala de aula on-line. A cibercultura, valorizando a interatividade, cria uma interlocução entre a emissão e a recepção da comunicação com impacto na transmissão da mensagem que se torna “viva” e modificável criando um conjunto de percursos abertos a navegações e modificações que permitem ao receptor, agora menos passivo e mais tecnológico, participação e intervenção física além de criar relações de reciprocidade.Já interatividade que é estabelecida, permite a interferência na mensagem com a bidirecionalidade da informação, garantindo uma oportunidade para que os envolvidos expressem os seus conhecimentos e se forme uma “mediação interativa” com múltiplas redes articulatórias onde o aluno dá sentido a mensagem do professor por meio de uma intervenção autoral e colaborativa que se transformam em estratégias pedagógicas. No texto, observamos algumas iniciativas sugeridas para que esse processo “libertador” se estabeleça como, por exemplo, a valorização da participação, o estímulo à expressão de ideias por meio de situações desencadeadoras, a multiplicidade de tarefas individuais e coletivas que permitam vários momentos para a avaliação, o auxílio na resolução dos problemas, entre outros. Especificamente sobre a educaçãoon-line, sugere-se alguns encaminhamentos, como o desenho didático por meio de hipertextos que contemplem uma avaliação formativa e contínua, o protagonismo da auto-avaliação e o papel mediador do docente potencializando as autorias colaborativas nas interfaces, formulando problemas, provocando interrogações, coordenando grupos de trabalho, sistematizando experiências e conhecimentos.

Por fim, observamos o texto de Oliveira & Oliveira (2013), que trata preponderantemente sobre a avaliação digital. Eles reforçam a ideia apresentada por Silva (2016) de que o modelo de avaliação on-line não deve ser meramente uma réplica dos modelos tradicionais de avaliação mas sim um processo articulado entre a formação e a avaliação. Deve-se buscar a implementação de estratégias que integrem a avaliação de competências incluindo conhecimentos, capacidades, atitudes e valores, sempre através de uma variedade de estratégias. Para que isso se concretize, a avaliação digital deve englobar elementos de quatro dimensões, a saber: a autenticidade, que deriva da necessidade de se concentrar na avaliação de competências e é representada pela similitude, complexidade, adequação e significância; a consistência, que se traduz pela interação entre as competências e a estratégias, como o alinhamento instrução-avaliação, a multiplicidade de indicadores, a adequação dos critérios e o alinhamento competências-avaliação;a transparência que é centrada no estudante e representada pela democratização, envolvimento, visibilidade e impacto; e a praticabilidade, que envolve as restrições institucionais como os custos, a eficiência e a sustentabilidade. No campo da metodologia do estudo apresentado, observamos seu foco foi no design de avaliação em uma unidade curricular de um curso de licenciatura em educação onde o regime preferencial de avaliação é o contínuo por meio de estratégias que incluem e-fólios, que são trabalhos escritos no formato digital e publicados no ambiente virtual de aprendizagem, a participação em fóruns, a realização de atividades formativas e finalmente um p-fólio que é um portifólio apresentado presencialmente ao final do semestre. Os autores notaram que os fóruns não avaliativos apresentaram baixa adesão dos alunos. Como conclusão do estudo, os autores aplicaram um formulário no final do semestre e obtiveram as seguintes respostas: 95% dos alunos consideraram os materiais disponibilizados adequados ao ensino; a maioria  deles consideraram que as atividades formativas contribuíram para organizar o estudo porém 88% deles não acharam que as mesmas potencializaram o desempenho nas tarefas de avaliação; as tarefas de avaliação digital como o e-fólio foram consideradas exigentes e desafiadoras por 80% dos participantes porém com a totalidade destes considerando-as adequadas às competências a se desenvolver. Por esses dados apresentados os autores puderam concluir que o design apresentado para avaliação digital érelevante na abordagem das quatro dimensões descritas e que a maior parte dos estudantes reconheceu o valor formativo da avaliação.

Resumindo, pelos artigos quatro artigos apresentados, pode-se ver que a busca por uma avaliação mais abrangente é o objetivo comum a todas as formas de ensino, sejam elas totalmente presenciais, híbridas ou totalmente on-line. As metodologias de ensino que incluem ferramentas digitais apresentam uma tendência maior a avaliação formativa, muito embora, boa parte dos docentes ainda transcrevam a metodologia formal presencial para o ambiente virtual, sem se adequar e sem explorar as novas possibilidades. Isso ocorre, em parte, pela falta de educação continuada dos docentes e pelo receio de gerar novos dados que dificultem a sua interpretação. Como mensagem final, talvez fique a necessidade de agregarmos o mundo virtual e a cibercultura no dia-a-dia da prática do processo de ensino-aprendizagem, potencializando uma avaliação mediadora, personalizada que mude os rumos do sistema educacional.

 

Referências:

HERITAGE, Margaret. Formative Assessment: What Do Teachers Need to Know and Do?. Phi Delta Kappan, Thousand Oaks, n.89, p.140–145, out.2007. Disponível em: < https://journals.sagepub.com/doi/abs/10.1177/003172170708900210>. Acesso em: 08 de Mai. 2020.

 BLACK, Paul. Os professores podem usar a avaliaçãoo para melhorar o ensino?

Práxis Educativa, Ponta Grossa, v.4, n.2, p.195-201, jul.-dez. 2009. Disponível em <http://www.periodicos.uepg.br>. Acesso em: 08 de Mai. 2020.

SILVA, Marco. Fundamentos da avaliação da aprendizagem: da sala de aula presencial à plataforma de e-learning. In: AMANTE, L. & OLIVEIRA, I. Avaliação das Aprendizagens: Perspectivas, contextos e práticas. Lisboa: Universidade Aberta, 2016. p.54-74.

 OLIVEIRA, R.; OLIVEIRA, I. Estratégias de avaliação digital: um estudo de caso no âmbito do ensino superior.Conference: Colóquio Luso-Brasileiro de Educação a Distância e E-learning. Lisboa: Universidade Aberta, 2013. p.1-18.




 

 

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PUBLICAÇÃO SEMESTRAL DA UNIVERSIDADE SALGADO DE OLIVEIRA

ISSN 2965-2340