REVISTA TRANSDISCIPLINAR UNIVERSO DA SAÚDE, Vol. 4, No 4 (2024)

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MATRICIAMENTO PARA AS EQUIPES DE PROFISSIONAIS DA REDE MUNICIPAL SOBRE NOTIFICAÇÃO DE VIOLÊNCIA INTERPESSOAL E AUTOPROVOCADA NOS SERVIÇOS DE SAÚDE

Camila Cavalcanti de Brito, Sayonara Arruda Vieira, Fernanda de Melo Soares

Resumo


Introdução: Com o intuito de aumentar o registro dos casos de violência e diminuir a incompletude das variáveis, em 2021, após o pico dos casos da Covid 19, houve a retomada das rodas de conversas sobre a notificação de violência. O diálogo com as equipes visa matriciar, capacitar e sensibilizar os profissionais da rede pública e privada, sanar dúvidas a respeito do preenchimento da ficha de notificação, identificar os principais desafios encontrados pelos profissionais de saúde para a não realização da  notificação de violência/autoprovocada. Objetivo: Realizar oficinas sobre a notificação de violência, através de rodas de conversa que visa matriciar, capacitar e sensibilizar os profissionais da rede pública e privada para aumentar a notificação, melhorar preenchimento da ficha e diminuir a incompletude das variáveis, sanar dúvidas a respeito do preenchimento da ficha de notificação, identificar os principais desafios encontrados pelos profissionais de saúde para a não realização da notificação de violência/autoprovocada. Metodologia: Para melhorar e incentivar a coleta do dados pelas as equipes de saúde da família, a equipe da Vigilância de Doenças e Agravos não transmissíveis realizou oficinas de matriciamento sobre notificação das situações de violência atendidos pelos profissionais da rede pública e privada. Quando são analisados o quantitativo de notificações realizadas entre 2017 (ano em que de fato as equipes da atenção primária começaram a notificar violência na cidade)  e 2022, há um total de 6.404 casos registrados pela rede de serviços do município. Destes, apenas 3,3% foram registros realizados pelas equipes da atenção primária e 18,2% por outros estabelecimentos (que inclui todas as unidades que não sejam hospitais e UPAs). Em cima destes indicadores, através de rodas de conversa, foi trabalhado nas oficinas o conceito de violência e a importância da realização do registro através da notificação compulsória. Há a apresentação dos indicadores do município com discussão sobre os resultados alcançados com as notificações. Há orientações sobre o fluxo de encaminhamentos das vítimas. Dialogamos sobre a importância do preenchimento de todas as variáveis e a desmistificação de que notificação para vigilância epidemiológica não é denúncia. Explicamos como a ficha deve ser preenchida, com a posterior realização de um exercício de preenchimento com um caso clínico e posterior esclarecimento das dúvidas que acontecem durante a execução da atividade. Resultados: Foram realizadas oficinas em 2021, 2022 e 2023. Foram capacitadas 13 equipes, as quais foram:  profissionais de uma equipe de policlínica, profissionais de sete equipes do NASF, profissionais da equipe do centro de referência da mulher, profissionais da equipe da casa de parto municipal,  profissionais de três equipes de saúde da família. Após análise dos dados, foi observado um aumento na produção das notificações realizada pelas equipes durante o ano em que o matriciamento foi realizado, contribuindo para a qualificação dos dados e fortalecimento das políticas de promoção à saúde. A produção de registro realizado por outros estabelecimentos ( que inclui unidades como policlínicas, centro de partos, centros de atenção psicossocial, centro de referência da mulher entre outros) em 2017 foi de 22%, 14,5% em 2018, 16,3% em 2019, 16,1% em 2020, 20,7% em 2021, 20,1% em 2022. Nestes seis anos analisados, isto é, dos anos de 2017 a 2022, foram notificados um total de 1.167 de casos de violência pela categoria outros estabelecimentos. Nesta categoria, em todos estes anos analisados, o principal notificador é o centro de referência da mulher que existe no município de Jaboatão. Em 2017, o percentual produzido pelas ESF foi 4,5% do total das notificações, ano em que a atenção primária começou a registrar. Em 2018 foi de 3,3%. Em 2019, com a equipe das DANTs reduzida e diminuição das rodas de conversa, 1,8%. Em 2020, ano do surgimento da Covid, o registro foi de 2,3%. Com a retomada dos matriciamentos, em 2021, o percentual de notificações foi de 3%. Em 2022, tivemos 5% de registros realizados pela atenção primária. Entre 2017 a 2022, a atenção primária notificou um total de 213 casos de violência. Quando cruzamos com os dados e comparamos com a produção das UPAs, que foi de 3500 nos seis analisados,  e Hospitais, que foram, 1522, há uma discrepância grande. Os profissionais da atenção primária alegam dificuldades por acreditarem que, se os usuários souberem que notificaram, os perpetradores da violência vão ameaçá-los. Além do aumento nas notificações, outro resultado importante é a formação de residentes de saúde da família do município, qualificando-os e instrumentando-os para um atendimento mais eficaz, e em decorrência desta participação, eles têm preenchido muitas destas notificações que são encaminhadas para o setor da vigilância epidemiológica. Soma-se a isto, que no futuro, enquanto profissionais darão continuidade a estes registros nos serviços onde estarão trabalhando. A participação dos estudantes nos matriciamentos promove a integração entre ensino e serviço, possibilitando novas aprendizagens.

Conclusão: Com a sistematização dos indicadores percebe-se uma alta subnotificação por parte das unidades da atenção primária e de outros estabelecimentos, que não são nem UPAs e nem hospitais, e que pode estar atrelada à falta de informações técnicas, desconhecimento da notificação compulsória de violência, dificuldades em reconhecer a violência em diversas situações vividas pelos usuários, insegurança por acreditar que a notificação é um instrumento de denúncia e que em decorrência disto, os profissionais podem ser indiciados como testemunhas ou serem ameaçados pelos perpetradores das vítimas cujas estórias foram registradas. As oficinas são pensadas justamente para desmistificar o que está no imaginário destes profissionais, mostrar que a notificação em saúde é um instrumento epidemiológico e cuja função é traçar um perfil de quem sofre violência e a partir disto a partir disto serem elaboradas políticas públicas para que a assistência à saúde esteja preparada para por em prática ações que receba as vítimas de forma resolutiva e acolhedora. Também é importante a rede de assistência social rever a forma como os conselheiros tutelares fazem a abordagem junto às equipes de saúde para que estes tenham confiança no trabalho dos conselheiros e que não evitem acioná-los quando necessário.

 

 

Palavras-chaves: Matriciamento. Violência. Saúde Pública.




 

 

REVISTA TRANSDISCIPLINAR UNIVERSO DA SAÚDE

PUBLICAÇÃO SEMESTRAL DA UNIVERSIDADE SALGADO DE OLIVEIRA

ISSN 2965-2340