REVISTA TRANSDISCIPLINAR UNIVERSO DA SAÚDE, Vol. 4, No 4 (2024)

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LESÕES HEPÁTICAS CAUSADAS POR USO INDISCRIMINADO DE ANABOLIZANTES

Victor José Uchoa de Carvalho, Rafael Araújo Gomes Júnior, Antônio Alexandre Barbosa Santos

Resumo


Os hormônios androgênicos são essenciais durante toda a vida do homem. Durante a fase intra-uterina, a testosterona liberada pelo feto é responsável pela diferenciação da genitália externa e interna (efeitos organizacionais). Na presença de testosterona, liberada pela gônada imatura, o sistema wolffiano, precursor dos órgãos sexuais masculinos internos, desenvolve-se, ocorre atrofia das estruturas precursoras dos órgãos sexuais femininos internos (sistema mülleriano), e a genitália externa e interna desenvolvem-se no padrão masculino. A partir do estudo das síndromes clínicas androgênicas, nas quais se observa deficiência da enzima 5α-redutase, concluiu-se que a conversão da testosterona em DHT é essencial para o desenvolvimento da genitália externa durante a vida fetal e também para o crescimento secundário capilar durante a vida adulta (Wilson et al., 1993). Os esteroides anabólicos androgênicos (EAA) são derivados sintéticos da testosterona utilizados para o tratamento/controle de diversas doenças (BASARIA; WAHLSTROM; DOBS, 2001; HARTGENS; KUIPERS, 2004). Inicialmente, seu uso terapêutico restringia-se basicamente ao tratamento de pacientes queimados, deprimidos, em recuperação de grandes cirurgias e também para restaurar ou restabelecer o peso corporal dos sobreviventes dos campos de concentração durante a 2ª guerra mundial (HARTGENS; KUIPERS, 2004; FERREIRA et al., 2007). Todos os esteróides ditos anabólicos são compostos derivados da testosterona. Atuando sobre os receptores androgênicos, modulam de forma indissociável tanto os efeitos androgênicos como os anabólicos. Tais substâncias variam na relação entre a atividade anabólica: androgênica, mas nenhum fármaco atualmente disponível é capaz de desencadear somente efeitos anabólicos (Clarkson, Thompson, 1997; Lise et al., 1999). Os efeitos colaterais associados ao uso indiscriminado dos EAA são dose e período-dependentes. No homem, os principais efeitos adversos são: atrofia do tecido testicular, causando infertilidade e impotência, tumores de próstata, ginecomastia, devido à maior quantidade de hormônio androgênico convertido a estrogênio, pela ação da aromatase; dificuldade ou dor para urinar e hipertrofia prostática. Na mulher, manifesta-se a masculinização, evidenciada pelo engrossamento de voz e crescimento de pêlos no corpo no padrão de distribuição masculino; irregularidade menstrual e aumento do clitóris (Wu, 1997). Os efeitos adversos hepáticos decorrentes do uso de EAA estão entre os mais comuns e graves, dentre os quais podemos destacar aumentos dos níveis de marcadores enzimáticos de toxicidade no fígado, podendo ocasionar hepatotoxicidade, além de hepatomegalia, adenoma hepatocelular (tumor de origem epitelial), entre outros (VIEIRA et al., 2008; SCHWINGEL et al., 2011).Um estudo publicado no Liver International por pesquisadores brasileiros avaliou a prevalência de doenças hepáticas gordurosas não alcoólicas através da ultrassonografia abdominal em 85 sujeitos do sexo masculino que tinham histórico do uso intramuscular de EAA pelo período superior a dois anos. Os resultados revelaram casos de hepatomegalia em 12,6% e esteatose hepática (depósito de gordura nas células do fígado) em 13,7% dos sujeitos pesquisados (SCHWINGEL et al., 2011). Existem autores que ainda descrevem (reforçando o que já foi escrito anteriormente) que do ponto de vista hepático estão descritos vários efeitos nomeadamente: colestase intra-hepática, hepatite, adenoma e carcinoma hepatocelular, sendo que os efeitos hepatotóxicos são mais frequentes com agentes 17α alquilados como o estanozolol. Desta forma, pretendem este resumo visa chamar a atenção para o consumo de EAA, em particular em grupos de atletas não profissionais onde o controlo por parte das autoridades competentes não é tão rígido (RIBEIRO, B., 2020).




 

 

REVISTA TRANSDISCIPLINAR UNIVERSO DA SAÚDE

PUBLICAÇÃO SEMESTRAL DA UNIVERSIDADE SALGADO DE OLIVEIRA

ISSN 2965-2340